(...)
- você não fuma. pára com isso.
- (pegando o cigarro) com o quê?
- com isso. olha pra mim, fala comigo. no meu olho. você tá me machucando. que ar é esse, que cigarro é esse?
- por favor, não vamos falar de machucar o outro, ok? e você não me conhece tão bem quanto pensa. agora eu fumo também.
- porque?
- por que sim. não tem por quê. nem tudo tem por quê.
- não, por quê você não tá olhando pra mim? olha pra mim, merda!
(continua)
segunda-feira, março 31, 2008
terça-feira, março 18, 2008
ontem no metrô um senhor grisalho me encantou.
uma boina cinza clara, óculos sem cabo daqueles que - não sei bem como - ficam presos ao nariz, paletó marrom escuro e uma calça xadrez com tons de verde. ele lia um jornal que segurava apenas com sua mão esquerda. a outra mão estava sobre o fichário rosa de uma menina de cachos castanhos e uniforme. ela pintava as unhas do avô(imaginei) com canetinhas coloridas. ele fazia malabarismos entre aquelas notícias empilhadas e folhas tremendas, usava o queixo pra virá-las, o nariz, tudo pra não interromper a pequena manicure. não tirei os olhos daquela família perfeita durante 7 estações. uma lágrima borbulhava tímida e um sorriso irradiava um algo quente a partir do meu peito. era um pequeno milagre, um êxtase fraterno do qual eu tinha ouvido falar mas não tinha aprendido ainda. o senhor me olhou de repente, me encarou 6 segundos, sério. eu sorri. mas ele não. lembrei de quando tinha 7 anos. era aniversário da minha mãe. tentando uma surpresa resolvi levar café na cama pra ela e derrubei a bandeja na entrada do quarto. não só quebrei parte da louça que ela mais gostava como provoquei com o susto um pico de ansiedade que a fez ir pro hospital com crise asmática. cacos aos pés. em um segundo ele já não lia o jornal, mas a menina ainda tingia suas unhas. quis preservar aquilo. desci 2 estações antes e peguei o carro seguinte. pensei em ser pai.
sexta-feira, março 14, 2008
"algo hoje se abre. começa a suavizar/
brecha pro que não cabe /que não se sabe /fazer-se ar"
Escrevi com o batom quebrado no papel seda, quase molhado. Foi ler o que acabava de borrar úmido ali e correr em tropeços pr'aquele cômodo apertado, meu coração.
- não repare, é meu coração.
- sim, sou você. é meu também.
Caí na entrada, mas me dei a mão e levantei, quase rápido. Abrimos a porta que rangeu e resistiu de início, mas orgulhosa, tentou evitar que eu percebesse soltando-se logo depois. E o fresco jorrou. Verde, azul, vermelho, liquidamente sopro, em todas as direções e vindo de cada fresta. Toda a estrutura estremeceu estaticamente, como reverbe de grave por dentro. Harmônico, ácido e ainda assim sutil, um doído cicatrização que arde em cura.
- tá tudo bem. calma, é só cor. isso.
Deitei o rosto sobre o meu e senti o contorno gelado. Mas gelado gostoso, como um que não carrega os tons de cinza da palavra 'gelado'. Gelado como travesseiro quando o viramos e o verso se oferece lírico, acalento, sabe? Olhei em torno: fotos, tantos bilhetes, e cartões, e pequenos presentes, e papéis dobrados. Marcados. Cravados na pele, na parede memória, transbordando as primeiras gavetas. As primeiras! Expostos, como a fratura. Bem à vista do esquecimento.
- é pra que ele não se seja.
- psshh! eu sei.
E sabia. Mas, não sei... não queria.
E ele lá(o fresco), restaurando a mobília. Tão dentro que um sempre, um todo.
E era aquilo. Empilhei meus livros mais altivos, e tudo que estava nas paredes partilhadas partidas, mal resolvidas. Sobre aquelas 2 vidas de altura da torre que ergui, um frágil e sincero equilíbrio precário. Ok. Respirei fundo, estiquei os braços, as mãos, o corpo, os dedos do pé em ponta, até a franja de uma das nuvens de meio de céu que por ali estava e que eu já quase tocava. Toquei. Me pendurei e subi. Pude me ver indo, e indo. Indo até sumir ao longe.
Acenei pra mim, dali mesmo. Mas não olhei pra trás, não vi o aceno, talvez tenha-o sentido brisa, uma que na hora passava e resolveu me dar moldura.
De repente, outro dia ainda no mesmo. Acordei Nutella. Não, gaivota de papel.
Talvez seja mais um espreguiçar. Isso, acordei um espreguiçar
- que é quando a gente é ontem por 3 minutos, mas como quem se aprende e se esforça pra lembrar, logo depois se rasga em hoje.
brecha pro que não cabe /que não se sabe /fazer-se ar"
Escrevi com o batom quebrado no papel seda, quase molhado. Foi ler o que acabava de borrar úmido ali e correr em tropeços pr'aquele cômodo apertado, meu coração.
- não repare, é meu coração.
- sim, sou você. é meu também.
Caí na entrada, mas me dei a mão e levantei, quase rápido. Abrimos a porta que rangeu e resistiu de início, mas orgulhosa, tentou evitar que eu percebesse soltando-se logo depois. E o fresco jorrou. Verde, azul, vermelho, liquidamente sopro, em todas as direções e vindo de cada fresta. Toda a estrutura estremeceu estaticamente, como reverbe de grave por dentro. Harmônico, ácido e ainda assim sutil, um doído cicatrização que arde em cura.
- tá tudo bem. calma, é só cor. isso.
Deitei o rosto sobre o meu e senti o contorno gelado. Mas gelado gostoso, como um que não carrega os tons de cinza da palavra 'gelado'. Gelado como travesseiro quando o viramos e o verso se oferece lírico, acalento, sabe? Olhei em torno: fotos, tantos bilhetes, e cartões, e pequenos presentes, e papéis dobrados. Marcados. Cravados na pele, na parede memória, transbordando as primeiras gavetas. As primeiras! Expostos, como a fratura. Bem à vista do esquecimento.
- é pra que ele não se seja.
- psshh! eu sei.
E sabia. Mas, não sei... não queria.
E ele lá(o fresco), restaurando a mobília. Tão dentro que um sempre, um todo.
E era aquilo. Empilhei meus livros mais altivos, e tudo que estava nas paredes partilhadas partidas, mal resolvidas. Sobre aquelas 2 vidas de altura da torre que ergui, um frágil e sincero equilíbrio precário. Ok. Respirei fundo, estiquei os braços, as mãos, o corpo, os dedos do pé em ponta, até a franja de uma das nuvens de meio de céu que por ali estava e que eu já quase tocava. Toquei. Me pendurei e subi. Pude me ver indo, e indo. Indo até sumir ao longe.
Acenei pra mim, dali mesmo. Mas não olhei pra trás, não vi o aceno, talvez tenha-o sentido brisa, uma que na hora passava e resolveu me dar moldura.
De repente, outro dia ainda no mesmo. Acordei Nutella. Não, gaivota de papel.
Talvez seja mais um espreguiçar. Isso, acordei um espreguiçar
- que é quando a gente é ontem por 3 minutos, mas como quem se aprende e se esforça pra lembrar, logo depois se rasga em hoje.
sexta-feira, março 07, 2008
!
OS AFRO-SAMBAS DE BADEN E VINÍCIUS.
OS AFRO-SAMBAS DE BADEN E VINÍCIUS.
OS AFRO-SAMBAS DE BADEN E VINÍCIUS.
OS AFRO-SAMBAS DE BADEN E VINÍCIUS.
OS AFRO-SAMBAS DE BADEN E VINÍCIUS.
segunda-feira, março 03, 2008
pré-musica 2ª
não
não chora assim
não é você
olha pra mim
agora é dor
mas vai mudar
agora é dor
há de passar
então vai, então tá
vai voar
és meu amor
não fala assim
quem sabe quando é mesmo o fim?
tem nada não,
não foi em vão,
vá se encontrar
abro mão
peito
cordão
armário, gavetas, portão
os olhos, as portas, as horas, as horas, as horas,
as sobras, porão
deixa
o vento vir
pois se já foi o que há de ir
e o que está, o que ficar
é o de contar
é te guardar
deixa
o tempo vir
que o que é de ter
não vai morrer
não vai sumir, não vai
sumir, não vai
sumir, não vai
mentir, não vai
e é preciso seguir
não chora assim
não é você
olha pra mim
agora é dor
mas vai mudar
agora é dor
há de passar
então vai, então tá
vai voar
és meu amor
não fala assim
quem sabe quando é mesmo o fim?
tem nada não,
não foi em vão,
vá se encontrar
abro mão
peito
cordão
armário, gavetas, portão
os olhos, as portas, as horas, as horas, as horas,
as sobras, porão
deixa
o vento vir
pois se já foi o que há de ir
e o que está, o que ficar
é o de contar
é te guardar
deixa
o tempo vir
que o que é de ter
não vai morrer
não vai sumir, não vai
sumir, não vai
sumir, não vai
mentir, não vai
e é preciso seguir
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