terça-feira, abril 29, 2008

compro: coração novo, ou semi em bom estado. sem histórico recente de inundação, lanhos profundos ou memória doce. transplante incluso. pagamento em espécime.
ela já não posta mais de mim. mas eu posto dela mesmo assim.

terça-feira, abril 22, 2008

ruim da cabeça ou doente do pé

Não, eu não gosto muito de carnaval. E sim, sou mesmo doente do pé. Ou fui. Nasci com uma deformidade congênita que entortava meu pé esquerdo: encurtamento de tendão, especificamente o que liga o que seria meu polegar - se estivéssemos falando da mão - à minha tíbia, que é o principal osso da canela. Isso na perna esquerda. Era como se o pé doente fosse carente, e tentasse tocar o direito. Mas nem é algo tão incomum assim. Acontece bastante até, e eles já sabiam o que fazer. Fui operado quase na mesma hora com menos de um mês de vida pelo então chefe da equipe médica da seleção Brasileira, Sr. Toledo. Talvez por isso eu também não acompanhe de perto o futebol. Tenho time até, mas quando alguém que realmente se relaciona com isso está por perto, sempre me sinto um tanto mentiroso. Vai entender os caminhos desse tipo de coisa. Certa vez cheguei à...

Acabo de perceber que o verso famoso que precede o título desse post fala sobre o samba, e não sobre o carnaval. De samba eu gosto.

Desculpem-me, acabou o (mote do) texto.

quinta-feira, abril 17, 2008

o efêmero é engajado.

sexta-feira, abril 11, 2008

Em meio às correspondências, num guardanapo amassado, daqueles lisos. Guardanapo de boteco:

"Minha rua está cheia de lixo. Sempre. Os hálitos e os olhares ao redor tem estado também. Com um quê de podres, o cheiro pesado, sabe? Os cães perdidos e suas moscas de ferida. Minha casa e os climas do jantar. E eu moro sozinho. Eu janto sozinho. E é disso que estou falando: as coisas continuam assumindo uma lógica quase... sei lá, um pré non-sense. É tudo bem sutil, e por isso mesmo poderoso demais, líquido demais. Não faz muito tempo que percebi. E entender esse tipo de coisa - que a vida não tem mais coerência que o sonho - não é algo assim, de estalo. Dá vertigem. Ânsia de vômito. Ás vezes vômito mesmo. Varia de acordo com cada um. Um mendigo lá da rua, quando entendeu, virou mendigo. Não que ele não fosse mendigo antes, mas acho que ali ele se encontrou, se inocentou. Agora ele esmola sorrindo. Sente fome sorrindo. Se coça sorrindo. E essa semana eu tenho topado mais com isso. Na rua, no trabalho. Na locadora perderam meu cadastro, e os 4 atendentes pra quem peço indicação de "filmes diferentes" há pelo menos uns 6 anos, simplesmente não lembram de mim, não me conhecem, os putos. Uma metáfora boa pra isso tudo: cheiro de percevejo. Aquele troço que mesmo sem matéria gruda em você - monte de concretude indefesa e inferior - que tem que se resignar, já que mesmo depois de banho, roupas de amaciante e toda a intervenção da vontade, você continuará com aquele perfume psicológico entranhado na insegurança. E tenho achado que é um momento global, sabe(?), o que me deixa um tanto claustrofóbico, eu confesso. Sabe quando o foda-se não vem? Você chama e nada. Aquele vazio irradiando a partir do estômago, vazando pelas costelas e invadindo as costas pela bacia em direção à nuca, e nada do foda-se pra te socorrer. O jornal tem chegado num saco espesso e resistente do qual não consigo tirar o nó. Meu iogurte preferido(cenoura, laranja e mel) mudou de gosto e de rótulo. Isso, aqui no Brasil. Isso, em Botafogo. E essa porra no Tibet? 'Duck Shoot Game' com os mongecos! Valia uma bombinha nuclear. Um estalinho pelo menos, só pros milicos se ligarem que não é assim que o gongo toca. Não, não falo sério. Mas quase. Ou não, não sei. Foda-se, voltemos ao meu panorama, e volto a falar só da última semana: O lugar onde eu almoçava todo dia fechou, sem aviso, sem plaquinha, nada. Meu chefe me chamou para um "papo" no qual fui informado de que minha produtividade tem sido insuficiente, embora eu deixe escorrerem meus projetos pessoais e a família que eu não tenho pra dar conta do que me cai. Um cara que bate na esposa se mudou aqui pra cima. E como cereja do bolo, ontem, a mulher da minha vida, a minha flor de laranjeira não esquecida, me disse que resolveu seguir, que fui eu quem quis assim. E logo agora que entendi que não é feio, nem risível o amor. Que resolvi ir ao maracanã pra entender mais o mundo dela - ela tá em reabilitação por conta de doses pesadíssimas de paixão pelo América. Agora que.. isso tudo aqui dentro, tem um outro cara no banco do carona dela. No domingo dela. É, leitor(a)... um momento que dá filme. Um curta pelo menos. Ou suicídio, essas coisas precipitadas que a gente faz e depois se arrepende, mas que nesse caso específico não teria chance. Não. Tem outras coisas desse pacote que são mais legais, e aí a coisa da claustrofobia ameniza - pouco. O bom de ficar na merda é que as coisas boas, por menores que sejam, ganham uma cor de milagre. Nesse momento realidade lisérgica, então. No último feriado fiz uma viagem inteira em caronas surgidas do nada, uma delas numa pick up, com direito a braço aberto e vento bom no rosto e de repente túnel de árvores floridas! Tsunami de perfume, assim, de graça! Realismo fantástico, ou fantasia realista, tanto faz. Outra: Andando pela alameda baixa semana passada, vi as 3 janelas de 3 apartamentos do mesmo 3º andar se abrirem ao mesmo tempo, e em seguida o mesmo baile de braços de senhora se escorando em cotovelos saídos e braços cruzados e olhares paralelos pra um baixo longe. Um ritmo idoso, mas que com o sol de uns 40 minutos pós 17 - adoro essa luz - eram quase o de 3 gatos, sinuosos, silhuetados e coreográficos. Gatos! Foi por isso que roubei a caneta. Hoje minha mãe trouxe o 4º gato da rua(só essa semana). Os outros 3 sumiram, sei que não é o mesmo. Mesmo! Lembra que falei sobre o pelo branco em losango nas costas, igual ao do Fred? Tem mais. Ontem a vi colocando um negócio no prato de leite. Pode ser que não, quero muito que não. Mas acho, acho mesmo, que ela está matando os gatos."

quarta-feira, abril 02, 2008

Badala a redenção. Nos ponteiros da Central as fatídicas 3 meias-dúzias se transbordam enfim. Os seis acenos do cuco francês, antigo e grave, confirmam a alforria no salão de costura. Não que houvesse realmente o pássaro a sair da casinhola - já velha, quebrada e sem nada que lembrasse a frança - , mas o abano de uma das asas da pequena janela de metal descolorido bastou pra que se pintasse no espaço lúdico a avezinha a grunir: liberté! liberté! Abre-se o portão, alavanca no ponto. Pronto. Em menos de um terço de hora, sem nenhuma baldeação, o par de pernas esguias e bem torneadas - ainda que nenhum outro exercício tivesse sua dedicação - iniciam a subida das teclas da velha escadaria, apenas uma das diversas que (e)levam até Santa Tereza e (e)levariam até o Largo de sua morada. Quase dor nas costas, e ainda assim assobio. Pré-canto, só enquanto essas senhoras estão perto, e então voz. 'Ainda é cedo Amor...'. Muitas e muitas chaves e só uma se esconde. Gradil verde. Quase em casa. Na bolsa grande um pique-esconde sem graça de chaveiro e mãos suadas. Boleto, batom, bombom. Óculos, cigarro, cartão. Barulho de chaves. Chaves... Palpitação e até o perfume de colônia verde através do som-chaveiro. Sua foto em mim, violenta como um tapa bem no meio do rosto do meu sossego. E de repente eu tenho estômago. Vazio. Estômago vazio e esticado estalando em minha nuca, pulsando aquele nada em tudo, logo agora. Com essa luz fraca de ladeira e esse vento frio entrando por gola e mangas. Com esse cheiro que parece jaboticaba, mas que é crisântemo -você dizia.