sábado, dezembro 31, 2005

o nada


não é


permitindo ser


um copo de estar


não de corresponder

segunda-feira, agosto 01, 2005

ego gruta em mim.

me rasga uma gana de pano.

o vício por an-seio lacúnico germinou-me logo cedo semi-ações e quase-coisas.

vesti-me de bem-aventurança oca, asteei bandeira de trapo, assisti meu orgulho ventear alturas...


numa tarde, ouvi o espelho rir. era o inverno batendo à porta.

num feixe,meus pássaros cruzaram o quarto calados e partiram pela janela fechada.
Antes da travessia, um último presente: abandonaram voz em minha garganta.


eu,

que há muito havia amordaçado qualquer gula pessoal

eu,

que tantas vezes milagrei saciando olhos coroados com bússola de mim

eu,

como que num tiro, fui fonado pelo desvirgínio:

um Urro - desses semeados desde murmúrio - espreguiçou, caminhou até uma extremidade de mim folegando e explodiu !

cataclisma , imensar de horizonte, fibrilar de terra firme.
descárcere !

dói-me essa chave sonora

agora, em frequência luz, furta-me os olhos ainda embebidos
em fotofobia e os dá de presente ao chão


lágrima:
o início do sincerar da égruta em mim.

quinta-feira, julho 28, 2005

perspectiva idosa

tempo: ente que acelera o em torno

quarta-feira, março 02, 2005

visita matinal

Um sorriso tateou-me logo cedo, talvez seguindo pétalas de um rastro de sonho. desencontraram-se. na boca, o berço-lábio, instalado bem no meio da minha cara. dois ou três segundos... palavra. sonâmbula. sussurrada. e sua. afinal é da musa o que ela inspira:

"polegares entrelaçados alando a retina acostumada. asas-mãos espreguiçando a distância, essa métrica comprida , doída" - eu falei.

"ahn?" - você diria.

Como, ahn?!? não te reconheces? é o dedilhar de tuas linhas, contornos! música original e virgem de teu instrumento! ouve:

"riarei até o céu as notas perfeitamente descompassadas deste duo cardíaco,

nascente, cresceNTE. retrilharei em mãos e boca o caminho da pena inspirada"

Ah, minha vertigem branca...
proesia nada petita embargar nuvens lúdicas em domingo aberto! é você o sonho! você!

volta sempre, viu?
que meu sorriso, eu quero esse.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

flor menina

Flor Menina

das pétalas tímidas,
das maçãs que florescem rosas

rubor que hipnotiza, catarsea
eterniza

Flor Menina do abraço que amanhece
do lábio que salta o tempo

folhas imãs que abrigam, transcendem
religam

Flor Menina

do beija-flor amigo,
da madrugada primaveril

tuas pegadas norteiam o vento, acendem o céu -
paleta estrelada

Flor Menina da voz macia, da presença que acaricia
enraiza-se uma saudade, que não cessa

E quem diria ?

sábado, fevereiro 12, 2005

ah ... o céu

As estrelas me transbordam,
me absurda a lua nua,
pôr-do-dol me entorpece,
a aurora me flutua.

Arco-Íris - raro instante!
banho-chuva religia
sob o ceú sou um infante
a brincar e ver magia

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Alguns poetas me versam tão fielmente
que me fazem déjà vu.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

frio na barriga

ah !
... elas ainda vivem ! !


apesar de tudo, de tudo ...
lá estão as borboletas !


e suas asas continuam a deslocar o vento ...
aquele ...
esse, esse !

encanta-te flauna , extasia-nos
cada infimo fio continua a se arrepiar e embeber-se em boa e perfumada dose de hesitação


tolo solo ...

mortas estavam as sementes.


(inapropriadas talvez)

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

almejo

Reencontrar quem nunca vi
re-habitar novo lugar
Ouvir-me em voz estranha
perceber outro a me pensar.

Convidar o céu a transbordar os olhos,
nos quais um mergulho tornar-se-ia eterno,
onde me afogaria, respirando pela primeira vez.

Abraçar o infinito,
brincar com o descaminho
desmitificar o rito,
mesmo só, não estar sozinho.

Entoar cantos íntimos em frequência audível apenas
aos naturalmente apaixonados, às pedras e seus convivas.

Ser o vento e seu torpor,
ser a folha a se lançar,
sem lembranças, sem temor,
re-aprender a voar.

Cultivar passionalmente a intensa presença em mim
do que me falta.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

beijo luz.

O céu estava tímido,
cobria-se de nuvens tecidas com fios espessos.
Sentia-se assim protegido dos poetas e demais ladrões.
Tantas vezes fora refém de suspiros e canções,
prisioneiro de reflexos, tantas vezes serviram-se
de suas jóias para adornar meninas dos olhos e corações...

Não aconteceria mais...

... se não fosse a mais bela e - ironicamente - intensa das quatro filhas satélites.

Mas havia algo diferente dessa vez.
Não fora terrena a investida , de Lua Cheia partira o flerte .

Um vôo verde de pássaro encantara a mais recente enamorada,
alterou sua órbita , até então inabalável.

Nada mais se poderia fazer, Lua Cheia havia vencido o alvo véu.

Venceria qualquer coisa para tocá-lo ,
brilhar em suas penas ,
penas que pareciam só ter alcançado a prima cor , o tom inato,
depois daquele beijo em forma de luz.

domingo, janeiro 23, 2005

bi po lá.

O dotor dissi pra mãe comu quem achava carambola fresca:
"Bipolaridade , Flor . Bipolaridade !"
Ela balançô a cabeça,
fez ruga di qui intendeu...
mãe tem orgulhu bobo , sorti qui ele percebeu.

Seu José Mário Filisberto e Silva era isperto*,
isplicou cum paciência u que qui Vida tinha,
mas tudu qui ele falô pra ela até us pássaru já sabia.

Assim mesmu continuava sendu pra ela o cantu mais bunitu.

O pai dizia que o mundo é pequenu e grandi,
que o terminadu é o qui dura
que tem coisa feia, que é bunita
que tem mistura qui acaba pura.

Nunca dissero qui era loquice, achavam o pai até sabidu

Choro sorrido , silêncio gritadu
e a mãe implicanu com as mudança de estadu

Purque num pudia , purque qui era erradu ?
Vida é assim ora !
Os opostu juntado.


* Dotor José Mário Filisberto e Silva sempri falava baixin, paricia cuxixá quanu cunversava.
Só aumentava a vós pra dizê qui si fez dotor "Na Capital!". Dizia tê si formado "Com Louvor!"

Devi di sê alguém importanti , apesá de só tê um nome.

sábado, janeiro 22, 2005

seiva moça

Hoje arvorei com fome.
O sol foi meu desjejum.
Riou-se meu corpo a dentro aluando o espaço florbeijado,
já desacostumado à amoras e tulipas.

Estrelas fundindo-se ao flâmago,
borboletaram cócegas no vento afago.
Petalaram-me enfim a sede
já tão orvalhada de cânticos graves.

Seja bem-vinda seiva moça,
ceie-me todo e se demore.

Insaciável é a aurora
Intransponível minha ânsia é.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

sono dilacerante

em batalha com Morfeu,
quase sempre sou derrotado


duelo em que o fio já há perpassado
antes que a culpa de qualquer pecado


brasa nos olhos
aproximando leitos, solos


entendo, ainda que tarde:
Não haverá no fim liberdade


rendo-me então, crente na aurora
que o dia trouxe de volta outrora

lírio em marte

Martírio é junção de letras que semeia o doer .
Culpa etimológica, nào alfabética.
Se acalmasse-se o pulsante e desmolhassem-se as maçãs,
avivassem-se, talvez, pétalas
de um lírio em marte.

dia desses ...

Dia desses vi de longe, um mininu curumim ,
Brincanu cum bem-te-vi que avuava bem baixin
era uns canto, uns assubio , uma purção di barulinhu,
qui elevaru aqueli indio até um daquelis ninhu.
O tempo tinha passaradu , a noite tinha caído
e o erê se perguntava como é qui tinha sido
Ao si aconchegá nas pluma sentiu chegá um perfume,
era as ninfa acompanhada de um montão di vagalume,
pisca-pisca reluzente , parecia as estrela ,
que descia lá du céu pra qui ele pudessi vê-las.
Ele intão cum um sorriso , à floresta agradeceu,
abraçô Tupã e a terra e tombô, disfaleceu .
Todos foro adormecenu, e suminu divagar
As fadinha e os vagalume, já num brilhava mais lá.
O silêncio tomô conta , tudo era lindo dimais
De repente nem o índio, lá deitado istava mais.
Num pude sabê seu nome, ele havia sumido
Mas pude ouví uma voz , sussurrá seu apelido
Nunca mais vo isquecê, foi aqui assim pertin
Pra achá aquele erê , era só gritá por Mim.