terça-feira, novembro 14, 2006

tonteira

eu que de mim já não sei
e cego tateio
e
teorizo

que me mato, me bato, debato
farto da falta, da chuva,
do ciso


eu que me pulo
eu muro
me procuro no murro em faca de ponta


pauso
na estante
pouso um instante

e ainda não cessa
essa dança tonta

sexta-feira, novembro 10, 2006

autobiograf.agia

calando ando
calado lendo
cala doendo minha autobiografia.

calendário (ou, caleidoscópio).

C'um copo d'ópio dopo
Calo dois corpos voz
Cá: lendária cópia
Lá: mente atroz

quarta-feira, agosto 09, 2006

Quanto menor e mais inofensiva cada transgressão
mais próximo se está da total subversão.
Um louco se faz paulatinamente. Ou...
Um homem se liberta aos poucos da loucura onipresente.

segunda-feira, julho 17, 2006

reflexão

leva isso,
......................leve ..................................longe

onde nada pareça quase

meio antes
qual sem fim

segunda-feira, junho 05, 2006

chave

apesar do mar
a domar
amar cada

marca da
maré
a pesar

ampulheta

num dia
eu rimo com vento, minha métrica é de vôo, de asa, de salto...
no outro
meus ossos gaguejam só de brisar e, o mesmo som antes perfeito
estilhaça cada vidro ao redor

exceto o espelho

terça-feira, maio 30, 2006

inércia

adias há dias
...
...
que saída,
a fé rarefeita ?

quiçá ida à fera refeita !

segunda-feira, maio 22, 2006

anti

A três passos do nada, o tempo é ultrapassado.
sua idade, o calendário, aquelas fotos...

todos os seus “se...”,
seu contorno,
a correta conduta e o equívoco,
o motivo ... palhaçada.

Toda essa precaução paralizante
revela-se frágil.

aqui
exerce-se o gerúndio e seu trampolim.
Tudo outro vale quinquilharia, apenas faixas de isolamento.

sim, a dois passos do nada, as mentiras sinceras, o “não sei”, Nietzsche e principalmente a contradição, são inocentados
mais,
são desejados,
e desmentem a memória opaca, o histórico.
Não só perdem o ranço desagradável como pintam de lacunas as paredes e o teto, e pintariam também o chão, se houvesse.

Nesse quadro, as verdades, ficam antes da porta.
Os lamentos, antes ainda, no mesmo cômodo 3x4 onde martelam-se as bússolas.

De nada servem suas marcas de expressão, a moral herdada, ou esse texto.
Ele também é julgo,
e aqui, a um passo do nada, calaria ainda dentro do olho, cegaria a lâmina língua.

Toda a árdua experiência acumulada
gargalha de si,
sabe-se idiota.

é justamente aí que o nada se revela,
abraçando
a totalidade
da extensão
desse corpo
ridiculamente
maravilhoso

na prima-fonte, pode-se ver as rugas sumindo,

o rubor saudabilíssimo,

a pele esticar,

esgarçar,

rasgar-se em luz

e potência



agora,
é-se demais pra um corpo

terça-feira, maio 16, 2006

o medo só corre
socorre

terça-feira, abril 11, 2006

pré-manhã

teto parede
armário
porta

travesseiro
saliva
janela
parede


relógio
suspiro
coberta chão
gelado

maçaneta tapete
torneira
água.

quarta-feira, abril 05, 2006

pouso.

a garça pousou no tronco
e o ronco da serra cessou
o silêncio abriu o acesso
para a ave que a sombra criou

terça-feira, abril 04, 2006

sobressalto.

minha nau não navega a vento
o que sopra é o que sobra de tudo
sobre o salto pro fundo de mim
fala um mundo que jazia mudo

matura.

me folheei, e não há resposta
não achei índice, nem manuais
quebrei, e o grito não cala
e nem o espanto nos cabe mais

domingo, março 12, 2006

rasura.

rasura
pena de morte
o raso afoga a tinta
procura cego o pincel
de um quadro que não se pinta

garganta.

gota rôta
em rota reta
contornando a forma posta
um disfarce de concretude
pra efemeridade exposta